Férias

Entrei de férias. A primeira coisa que pensei quando retornei do ano novo na cidade dos meus pais, com 20 dias de férias pela frente foi: o que que eu vou fazer em casa esse tempo todo?
Lembrei que a função da minha correria entre empregos e com horários curtos de descanso já foi fuga. Sim fuga! A gente se esconde atrás de um dia atarefado. Evita de olhar a gente mesmo, no espelho ou por dentro.
Tive medo. Será?
De repente me vi organizando a vida e a mim. Arrumei armários, limpei gavetas, encontrei comigo mesma em fotos antigas, sorrisos de aparelhos, como mudei!!! Achei bilhetes de amigas da faculdade, hoje bilhetes de alunos, dizendo que sou o que não sou e decidi guardar os bilhetes pelo afeto que representam hj.
Já entendi há anos que eles (alunos) nos esquecem, no curto tempo entre colação e baile. Sim! Faz parte! Quando chega o baile, a festa é deles com os deles e minha (nossa, dos professores entre nós). Guardei bilhetes. Não guardei blusas, não dá pra me enganar que entro naquela blusa ou que ela ainda é "minha cara". Minha cara mudou! Percebi nas fotos. E no fato de estar extremamente feliz ao fim do dia e mandando as fotos pra minha mãe (uma virginiana daquelas que fatalmente se orgulha de uma filha que faz faxina!)
"Ainda somos os mesmos... E vivemos..." Cantaria Elis.
O fato é que não é a faxina. Nem a leitura de textos com calma pra disciplina que só começa em fevereiro, ou da papelada de estágio  já organizada que contraria meu gênio que sempre apertou o botão postergar!
Não é só isso.
É o me sentir feliz em casa.
Estar em paz em estar na minha cama, com minha gata e marido jogando videogame na sala, em uma sexta feira e feliz.
É ouvir o barulho da balada que frequentei pertinho de casa, de onde já voltei cantando e dançando como só alguém com teor alcoólico elevado tem classe para fazer, ouvir a música, olhar a neblina e pensar: não queria estar lá.
Estou feliz com minha leitura do Bauman em casa. Feliz de arrumar a casa e a mim.
Feliz de comer minha maçã.
Feliz em tomar água e na madrugada, sentir friozinho e correr pra cama.
Feliz com os dias de férias e paz!
Quem acha isso monótono demais, ou tem alma de 20 anos ou não sabe o prazer de estar bem consigo aos 30... E poucos! ;)

Tanto...

Casais próximos se separam.
Problemas de infiltração  no apê.
Bebê de amigos acabou de nascer.
Férias.
Saída de madrugada para remédio, água.
Volta pela cidade em busca de lanche.
Estrada compartilhada.
Contas meiadas.
Sobrinhos.
Bagunças na cama.
Aniversário dos sobrinhos.
Roupa para lavar.
Mala.
Qual carro vai pra viagem?
Até quando vão suas férias?
Muito legal conversar com seus pais.
Cardápio de Natal feito com a sogra.
Presentes de Natal comprados.
Tem vinho na geladeira?
Tem queijo!
Vamos beber no quintal?
Pega a fralda do Fred que pego ele pra Flávia.
Vamos deitar pro André descansar.
Vamos jantar com a Mi e o Juca?
Eu compro o sashimi!
Legal eles estarem planejando isso?
Peixe e Bru chegam quando?
Tem que falar isso com o Peixe!
Tem café!? Ou compra mais?
Compra água!
Vc já está em casa?
Onde vc tá!?
Lindo, vira de lado vc tá roncando ...
Linda vira... Vc tá roncando.
Vai dar tudo certo!
Eu leio pra vc!
Ainda bem que vc se antecipou!
Não fica assim!
Quer comer alguma coisa!?
Diminui o ventilador!?
Ooooh a música nova da Anita!
"Cê acredita!?"
Cada época a Dani inventa uma bobeira!

E vc deve me perguntar, mas o que são essas frases? São expressões da nossa férias... São flash do que vivemos.
Mas sobre tudo, são frases que se ligam, se confundem... Um casamento é feito de muita coisa, mas há pelo menos cinco anos, os problemas, as frases e a vida não é só minha.