domingo, 17 de maio de 2020

Um mês de quarentena

Não sei quanto tempo estou em quarentena e afastada do trabalho. Imagino que neste 15/05 completou um mês. Também não me lembro quando começou a loucura toda. Mas acho que foi lá pelo dia 23/03...
Parece que faz uma vida.
Já pensei, sofri, me acalmei tantas vezes.
Resolvi escrever hoje porque estou cheia de contradições em mim. Ainda sinto medo, mas tento olhar as coisas de modo racional.
Atualmente tenho medo de me contaminar e fico tentando pensar em como reagir, caso isso aconteça.
Também penso que estamos relativamente protegidos porque, ainda que Carlos saia, estamos em casa a maior parte do tempo, diria que 80% do tempo.
Já vivi a felicidade de estar em casa.
A irritação de estar em casa tão perto do Carlos.
Já vivi uma letargia, um cansaço e uma falta de fico, próprias da mudança de rotina.
Hoje pareço ter instalado uma rotina.
Há duas semanas tento retornar aos exercícios, só na última semana fiz os treinos online da academia como antes.
Percebi que queria ter reunião de equipe para ter contato com o pessoal do trabalho.
Tenho trabalhado duro e compartilhado isso com eles, para reduzir minha persecutoriedade.
Tenho cozinhado aos fds e aprendido outras receitas.
Tenho aprendido a dividir as O coisas com o Carlos e aprendi a ficar mais tempo com ele.
Tenho visto muito o céu.
Consigo ouvir música.
As notícias do vírus já não estão na minha primeira busca quando acordo.
Tenho rezado.
Tenho sentido vontade de ser mãe, mas não tenho coragem de tentar agora.
Temo pela saúde do Carlos, mas temo pela minha, embora algo me diga, que podemos pegar e ficar bem.
As vezes esqueço e belisco comidas de delivery antes de esquentar e me culpo.
Não consegui tocar violão, mas consigo ouvir música sempre e isso me faz bem...
Estou fazendo um curso online sobre saúde mental e covid da Fiocruz maravilhoso.
E estou me organizando pra fazer outros de psicanálise!!!
O que tem nos desgastado, é a crise política a nosso redor. Presidente diz uma coisa, governadores outra, nós temos nossa percepção, ela é oposta a dos meus pais e a de uma parte da população.
Temo o fim do isolamento.
Embora veja anúncio de Lockdown para a capital do Estado.
Tenho medo de que o país entre numa onda de que está tudo bem e tenha que voltar ao trabalho....
Estou segurando ao máximo, tentando trabalhar em casa para justificar não entrar com férias e usar elas mais pra frente.
Ao mesmo tempo que rezo pra não aumentar casos, penso que só o aumento de casos faria com que as pessoas temessem e se conscientizassem.
Há defensores de uma medicação como a chave da cura...
Há 16 mil mortes lá fora e uma curva ascendente!
Há o meu medo que diz: não há mágica.
Há um diálogo difícil com os meus pais...
Há um diálogo difícil meu com a vida.
Estou revendo planos e sentidos. Revendo caminhos.... Tentando... Veremos.
A sensação de que as coisas não serão como antes, pode não ser real pra sociedade, pra mim já é.