quarta-feira, 29 de abril de 2020

Mensagem a mim mesma

Um mês antes da quarentena disse em terapia que não sabia lidar com situações angustiantes, prolongadas e que então tivesse o controle.
Falei doido pensando em algum problema com a minha família, um problema de saúde, sei lá.
Hoje né lembrei disso.
Parecia intuição.
Hoje vivo uma situação angustiante, prolongada, sobre a qual não tenho controle.
Já imaginei tantas coisas horríveis. Já me  angustiei com números altíssimos, ausência de socorro... Porque acompanhei minha amiga preocupada com tudo isso. Cléo na França, eu aqui, relatos de como estavam as coisas né assustavam tanto...
Ainda me angustiam.
Mas, agora entendo, pra sobreviver a uma situação difícil, longa e angustiante é preciso se defender... E essa defesa me anestesia.
Há compaixão. Há preocupação. Mas há sobretudo um cuidado de ir vivendo um dia de cada vez.
De ir vivendo como a vida se apresenta.
Assim como, aproveitar que nesse momento está tudo bem, pois não sei como será daqui dez dias.
Mas aquela angústia louca das primeiras semanas, se foi. O medo que vivi aqueles dias, não era real. Os cuidados que tomo desde a primeira semana eram estratégias pra tomar agora.
Entendi que tudo tem sem tempo e estou tentando viver cada coisa a seu tempo.
Estou em paz, como nunca achei que ficaria e agora sou paz e outros trêss sentimentos: estranhamento por essa sensação, preocupação (inevitável mas possível de ser vivida) e a certeza de que tudo passa.
Aliás esse é o motivo desse texto, registrar pra mim mesma que TUDO PASSA.

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Dia difícil

Fiquei em dúvida quanto a nomear hoje como dia difícil. Porque como estamos com saúde, parece que precisamos agradecer.
Hoje o dia começou com Carlos reclamando sobre a pressão que você saúde x economia.
Seguiu pra demissão do ministro e agora a noite a notícia de que não há mais leitos de UTI no Ceará.
Confesso que perdi o ar e pensei, a onda está se formando... Está chegando.
Meus pais estão irritados com a quarentena.
Preocupados com aposentadoria deles....
E enquanto isso, meu pai vai a padaria. Penso que são escolhas.
Mas hoje, hoje foi difícil.
A impotência que imagino ser nível 2 diante do que ainda vou sentir até 10... Bateu. Forte.
Quis registrar aqui... Que tô num momento de revisões... Pensando se deveria mesmo estar há tantos dias cuidados intensos, pois agora qnja estou cansada, percebo que é hora de começar a ter atenção com isso.
Meu Deus! Cuide de nós!!! 🙏
#Preocupada

domingo, 12 de abril de 2020

Qual a hora de deixar ir?

Quando era criança sempre fui devagar para brincadeiras ousadas. Via meninos e até meninas de bicicleta na rua pegando carona na carroceria dia caminhões e imaginava que devia ser muito legal, mas eu, bem, eu não teria agilidade para segurar guidão com uma mão, com a outra a o caminhão, aproveitar a viagem e sair viva rsrs
E estou falando isso pq a sensação que tenho é que, em tempo de coronavirus precisava saber a hora exata de saltar foi caminhão. 
Mas vc deve de perguntar, como assim? 
Sim. Sou uma paciente de risco. Aos 36 anos sou uma paciente com todos de complicação no contágio e isso me assusta. 
Meu médico sumiu desde decretada a Pandemia... Tem sido difícil encontrar ele.
Foi depois de discutir com a secretária que recebi minha declaração de afastamento.
Entro em quarentena na segunda. 
Saí do trabalho com um misto: alívio por ir pra casa. Angústia por deixar meus amigos.
Calma e tristeza se misturam.
Eu nunca deixei meu trabalho se não fosse por férias.
Em 12 anos eu nunca me afastei e sair nesse momento é sobrevivência mas é frustração.
Sai deixando um projeto de trabalho pra colaborar de casa. Saio me comprometendo a permanecer cumprindo horário em casa para as demandas do serviço. Saio querendo ser imune pra permanecer.
Temos difíceis de coração apertado, mas larguei a carroceria do caminhão antes de me ferir. Ainda que tenha saído com alguns ralados.