Lembro de mim, há dias atrás, fora de quarentena, ainda desacreditada do que poderia acontecer...
Deitada no divã, na minha terapia, dizendo: "O dia em que confirmar um caso em Marília daí acho que vou surtar. Sou fóbica!" Disse com tom óbvio e quase displicente pra terapeuta.
O silêncio da sessão me deixou continuar a dizer coisas a mim mesma.
Prossegui.
Eu não sei e estou com preguiça de fazer cálculos sobre quando isso aconteceu.
Porque eu não sou mais aquela Daniela.
Desde então crises de choro, ansiedade, compulsão por informação, calma na condução da conduta dos meus pais, apreensão na conduta com os meus pais mas sem dizer nada, orientação direta na conduta dos meus pais.ias e dias, manhãs angustiadas, noites preocupadas e me perguntando: Como vou fazer para suportar tudo isso!?
Hoje sei que O TUDO ISSO está na minha mente.
Mas também está fora dela.
Depois desses dias veio a notícia de casos suspeitos em Venceslau.
Veio também a notícia de UTI completamente ocupada em Venceslau.
Depois veio a notícia de Prudente não querer receber pessoas de Venceslau.
E em seguida meu irmão visitando meus pais ou meu pai indo ao mercado: O mundo ruindo e ele indo ao mercado. E eu chorei, muito, pela conduta deles, mas logo depois fiz uma ligação com um esporro dizendo: "Eu não vou ligar, porque se aviso, a chata sou eu!"
E depois de uma crise de ansiedade que me acordou junto com uma diarréia (emocional) no último sábado e que me fez virar a madrugada achando que tinha me contaminado e que todos os programas disponíveis, inclusive festa do Big Brother Brasil que tanto gosto eram insuportáveis e não superavam minha angústia... decidi: psicotizar.
Me abrir na minha negação, distanciamento, cindir. Impedir que a angústia dos meus pensamentos invada meu ser antes que qualquer vírus.
Decidi reduzir o contato com o facebook que jorra transmissão e violência.
Decidi reduzir as leituras sobre o incontrolável vírus.
Decidi assistir filmes, séries e entendi: A gente assiste as séries pra fugir também.
Nos abrigamos em séries a conta gotas.
Fizemos contato com amigos.
Tentamos.
Mas hoje, hoje chegou o primeiro caso confirmado.
Eu não sei bem quantos outros virão, só sei que muitos.
Eu não sei bem quantas mortes vão me abalar, mas espero que sejam algumas apenas.
Eu não sei bem o que vai acontecer, só tenho pedido diariamente para que passe por tudo isso de um modo suportável.
E tenho pedido para que de algum modo eu esteja protegida das consequências mais sérias, comigo e com quem é muito importante pra mim.
Hoje sinto a ameaça real.
Ele está aqui. Não que eu não soubesse. Mas ele está, confirmadamente.
Agora não é fantasia. Fobia. Imaginação.
Ele está.
E eu sei que daqui quinze dias, a Daniela que pode escrever aqui terá percepções diferentes, mas por hoje penso:
1. Que confio no Ministro da Saúde e seu raciocínio técnico de segurar a contaminação com solicitação de isolamento social. Acredito em sua determinação de preparar serviços públicos para o que virá. Como servidora pública sinto que nos organizamos melhor após o impacto da notícia de que estávamos em estado de calamidade.
2. Penso que estou fazendo o possível para não me expor e tenho fugido de muitas formas de qualquer exposição.
3. Queria muito conseguir sair um pouco do ambiente de trabalho no prazo de 15 a 20 dias (que acredito ser quando o caos começará a se instalar) pra estar ainda mais protegida.
4. Queria que em algum momento entendessem que meu trabalho não é essencial e posso fazê-lo de casa. Queria mesmo.
Mas também sei que essas expectativas talvez não se cumpram. Tudo muda o tempo todo.
Tal como a mutação desse invisível que me assusta.
Por hoje estou razoável com a notícia.
Veremos o que a minha mente vai produzir a partir de agora.
Veremos...
Esse blog já foi tanta coisa. Lá em 2014 começou como diário pra me ajudar no intercâmbio do meu namorado! Nem imaginava, mas leram meus textos! O namorado foi, voltou, a gente casou, o blog virou diário de dores e delícias do casamento. Mudou de novo pra nomear minha ansiedade pré-gravidez, pós-gravidez. Aí ficou monotemático em: Theo. Assim como a nossa vida! Então, faz como naquele samba: "Entra, se acomoda à vontade! Tá em casa! Toma um drink! Dá um tempo..." e vai me lendo.
terça-feira, 31 de março de 2020
terça-feira, 17 de março de 2020
Tempos difíceis
O momento que tenho vivido precisa de uma definição, definição esta que não chegará tão cedo.
Na TV, nos jornais, nas redes sociais, nas conversas... tudo está infectado pelo vírus.
Aos 36 anos. Independente financeiramente. Casada. Três empregos. Dois desses ligados à Saúde (Pública e Particular). Muitos amigos. Há semanas sem visitar meus pais, explode a notícia de que estamos ameaçados por algo invisível mas impactante: Corona vírus.
Não sabemos os rumos dessa pandemia.
Nem quando passa, nem quando será extinta.
Não há tempo. Não há contorno. Não há definição.
A sensação que essa inexistência de controle me traz é quase inexplicável.
Hoje. Me sinto como em um brinquedo em que fui nas férias.
A traquitana consistia em um colchão, retangular, enorme, cheio de ar. Onde me deitava em uma extremidade e na outra extremidade um rapaz, responsável pelo brinquedo pulava de uma espécie de trampolim, atingia sua extremidade e o impacto dele no colchão, em um efeito catapulta, deslocava meu corpo pelo ar... Segundos de deslocamento rápido em que o barulho dos forrós da Lagoa do Paraíso se tornavam silêncio. Silêncio e ausência de controle sobre onde cairia e de que modo cairia.
À mim, restou segurar firme no colete salva-vidas, voar, esperar a queda na água.
Segundos de silêncio que foram longos.
Poucos segundos sem controle que pareciam muitos.
Eis como me sinto agora. Sem previsão de quando caio na água.
Sem previsão de que o colete salva-vidas onde tento me segurar, de fato me assegure.
Raciocínios sobre possibilidade de contato.
Raciocínios sobre problemas com a saúde dos meus pais.
Incertezas sobre o quanto o meu corpinho suporta esse problema sem um colapso.
Reflexões sobre o quanto o sistema de saúde suporta dar assistência às pessoas sem um colapso geral... Me deixam em suspenso.
Onde vamos cair?
Que hora vamos parar?
O meu humor me deixou, por hoje, ele também está em suspenso, no ar e voando, longe de mim.
Não consigo encontrar as mãos dele pra nos segurar.
Tempos difíceis... Difíceis.
Na TV, nos jornais, nas redes sociais, nas conversas... tudo está infectado pelo vírus.
Aos 36 anos. Independente financeiramente. Casada. Três empregos. Dois desses ligados à Saúde (Pública e Particular). Muitos amigos. Há semanas sem visitar meus pais, explode a notícia de que estamos ameaçados por algo invisível mas impactante: Corona vírus.
Não sabemos os rumos dessa pandemia.
Nem quando passa, nem quando será extinta.
Não há tempo. Não há contorno. Não há definição.
A sensação que essa inexistência de controle me traz é quase inexplicável.
Hoje. Me sinto como em um brinquedo em que fui nas férias.
A traquitana consistia em um colchão, retangular, enorme, cheio de ar. Onde me deitava em uma extremidade e na outra extremidade um rapaz, responsável pelo brinquedo pulava de uma espécie de trampolim, atingia sua extremidade e o impacto dele no colchão, em um efeito catapulta, deslocava meu corpo pelo ar... Segundos de deslocamento rápido em que o barulho dos forrós da Lagoa do Paraíso se tornavam silêncio. Silêncio e ausência de controle sobre onde cairia e de que modo cairia.
À mim, restou segurar firme no colete salva-vidas, voar, esperar a queda na água.
Segundos de silêncio que foram longos.
Poucos segundos sem controle que pareciam muitos.
Eis como me sinto agora. Sem previsão de quando caio na água.
Sem previsão de que o colete salva-vidas onde tento me segurar, de fato me assegure.
Raciocínios sobre possibilidade de contato.
Raciocínios sobre problemas com a saúde dos meus pais.
Incertezas sobre o quanto o meu corpinho suporta esse problema sem um colapso.
Reflexões sobre o quanto o sistema de saúde suporta dar assistência às pessoas sem um colapso geral... Me deixam em suspenso.
Onde vamos cair?
Que hora vamos parar?
O meu humor me deixou, por hoje, ele também está em suspenso, no ar e voando, longe de mim.
Não consigo encontrar as mãos dele pra nos segurar.
Tempos difíceis... Difíceis.
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