Em 2018, após um ano de ter ouvido do meu nefrologista que era melhor eu ser mãe logo, decidimos que poderia ser o momento de iniciar as tentativas.
Neste tempo, precisei ter coragem de trocar o remédio de pressão, que também era nefropotetor, por outro remédio, indicado para gestantes.
Iniciei o processo de troca em fevereiro de 2017, esperei o tempo de adaptação e a margem de segurança para que todo sal do remédio anterior saísse do meu corpo, pois poderia atrapalhar desenvolvimento fetal.
Em maio, após esse período, quando me sentia ok para começar, massageando meu ombro, sinto um nódulo! Um gânglio linfático aumentado! Disse o médico que fez ultrassom! Provavelmente você está com alguma infecção, melhor investigar.
Era junho e suspende o projeto bebê! Bora investigar!
E o que ora vc se traduz em dois parágrafos e 6 linhas pra mim foram dias e noites de muita angústia! O que era o nódulo? Porque se desenvolvera? Qual era a infecção? Como controlar? Quando acabaria? Pq comigo?
Parece dramático e é! Sou leonina exagerada, com ascendente em peixes chorona, e acho que minha lua é em medo! rsrs
Depois de ir à minha ginecologista, descubro que estou com toxoplasmose. Resultado da vida saudável que vinha tendo, comendo muita salada dos lugares e que provavelmente não foram lavadas do modo correto! E isso eu soube com uma excelente infectologista que consultei e que me acolheu e acalmou.
Porque a essa altura, eu queria entregar a Paçoca, a gata de uma vida toda pra adoção! Sim, depois de 14 anos de convivência pensei: toxoplasmose veio dela!
Embora soubesse que o maior foco de contaminação sejam alimentos!
Chorava por medo da toxo, por dó de estar com raiva na Paçoca e porque isso me impediria de tentar engravidar por 3 meses - a infecção estava ativa e teria que ceder.
Com margem de segurança, esperei mais que 3 meses. E quando finalmente estava ok para tentar em novembro de 2017. Comemoramos a chegada da Marina e a minha liberação! Em dezembro, perdemos meu sogro de modo rápido e repentino!
Foram meses de luto! Pelo menos 1 ano de muita triste pro Cá.
E então reomeçamos daquele jeito! Como quem começa a dieta na segunda e essa segunda não chega nunca. Ou a gente sempre abre exceção e enfim...
Isso já é 2019. Nesse ano fui pro ano novo de vestido branco com uma fita azul e uma rosa comigo pedindo meus bebês. E nada...
Passei o 2019 tentando mais sozinha do que com o Carlos. Um cansaço da rotina e dias e dias tentando entender ovulação e data certa pra tentar engravidar...
Um processo chato, que pra mim, passado esse tempo percebo que minou nossas energias, nos fragilizou enquanto casal, interferiu na nossa sexualidade. Ter relações com dia marcado na exaustão de uma rotina é estressante não é legal! Como produzir vida desse modo?
Tentativa atrás de tentativas. Meses divididos em ansiedade pela semana de ovulação, ansiedade pela não vinda da menstruação, tristeza ao perceber sintomas de TPM e mais tristeza ao perceber q menstruei.
No meio disse veio a pandemia e suspendemos as tentativas. Estava com MUITO MEDO e só recomeçamos as tentativas 6 a 7 meses depois de iniciada a pandemia, não sem medo, mas arriscando, como qualquer brasileiro fez nessa loucura que foi a pandemia no contexto do nosso país.
Foi como fuga da realidade mesmo. Vamos olhar pra vida porque a morte nos invade de vários modos.
Até o dia em que me peguei chorando no banheiro porque menstruei e decidi blefar: dizer à gineco que estava querendo tentar fiv, como uma mulher diz que quer fazer lipo mesmo magra, ou que quer fazer qualquer procedimento no cabelo que não precisa. Eu blefei e começaram os exames.
Foi quando eu descobri que realmente havia um impedimento mecânico, um pólipo, no útero e uma tuba com suspeita de problemas, que não se confirmou.
Mas que entendi que não era uma frescura pedir ajuda para engravidar, era necessário! Era preciso. E então passei a fazer procedimentos e tratamentos.
De lá pra cá foram, 1 histerossalpinografia, 2 histeroscopias em centro cirúrgico, foram pelo menos 3 ultrassons em clínica especializada, foram incontáveis ultrassons na clínica médica pra acompanhar ovulação, realizar aspiração dos óvulos e depois verificar endométrio e conseguir fazer a transferência.
Foram injeções de hormônios pra favorecer crescimento de folículos, duas injeções pro gatilho da ovulação, aproximadamente 42 óvulos de progesterona e umas três cartelinhas de estradiol...
Muito choro. Muito medo. Muita preocupação. Mas muita coragem. Muito apoio. Muita vontade. Muita fé.
Após a transferência me sinto mais próxima da possibilidade de ser mãe e é inegável uma ansiedade pelo positivo e pelo negativo. Eu caminhei por muitos lugares até chegar aqui.
Eu achava que bebê por fiv era mercadoria. Agenda-se um horário porque é prático e busca-se um bebê. Não é. É outro processo! Muito outro.
Não sou menos mãe e a dor que sinto quando penso nisso tem a ver com a expectativa, com o fato de que as pessoas entendem maternidade por um caminho único e pensar pensar fiv pra alguns parece falta de fé na natureza quando na verdade ela requer uma dose extra, pra acreditar que o natural se manifesta em laboratório, nas imagens que visualizamos, nos testes que fazemos, no sonho vivido todo dia e com investimento.
Investimento GIGANTE! Que não vou comentar sobre a dimensão em qualquer conversa, mas ele existe, está inscrito em mim e na coragem que sustento de buscar meus ou meu ou minhas ou minha bebê.
Eu não vim até aqui pra desistir agora. Entendo e acolho a minha vontade de fugir dessa ansiedade toda, pq não vai ser a primeira vez, que acelera meu coração sobre isso nas últimas 24 horas. Mas eu não vim até aqui pra desistir agora.