domingo, 26 de maio de 2024

Ele sabe muitas coisas

 As letras H, O, M e X não são símbolos desconhecidos. As cores azul “a-hul”, vermelha “memeia”, amarela “amaiéio”, laranja “a-anja”, verde “êdi”, roxa “oxa” já são identificadas e nomeadas.

Já sabe contar quase que corretamente de 0 a 10 e reconhecer números como 2, 3, 4, 8 e 10.

Já falou o primeiro palavrão não intencional: pucapaiu!

Já sabe o meu nome e o do pai. Ani e Caios. Sabe onde é o mercado. Já sabe onde é a Marta e onde virar pra casa dela. Já sabe como encher de amor com fofuras. Só não sei me despedir do bebê que agora é um menininho! 

quinta-feira, 9 de maio de 2024

Carta ao Theo

 Se um dia eu faltar, Theo. Saiba que a sua chegada me permitiu sentir uma alegria que meu coração jamais havia registrado em seus mais intensos batimentos.

Saiba que seus olhinhos, grandes, curiosos e atentos pra descobrir o mundo ou apertadinhos em um sorriso, foram o motivo do mesmo coração parar por alguns segundos repleto de uma sensação que eu, psicóloga, há quase duas décadas, que nomeia sentimentos pra tanta gente, não sei explicar. 

Tenha a certeza de que os meus maiores medos também foram motivados pela sua chegada. Medo de não conseguir aproveitar você o suficiente. Medi do tempo passando rápido demais pra nós! Medo de um dia te ver sofrer me sentindo impotente e sem mto o que fazer, medo que o mundo não seja bom com você. Medo que não aproveite suficiente tudo de lindo que é viver do seu lado. Medo de me perder. Medo de te perder.

Saiba que a textura da sua mãozinha,’o cheiro do seu pescoço, o barulho da sua risada, a mágica das sua tiradas, o orgulho de cada aprendizado, a maciez dos seus cabelinhos, o quão feliz são seus barulhos pela casa estão entre as melhores sensações, que procuro guardar na memória pq me fortalecem e vão me fortalecer sempre que precisar, mesmo que passem anos….

Você me fez rever a vida e a mim. Vc me fez corajosa pra ser teu Porto Seguro. Vc me fez admirar e amar ainda mais o seu pai. Me fez forte. 

Abriu espaço em mim pra uma sensibilidade e emoção que escondia há tempos por aqui. Relativizou dores e amores com a grandeza da sua existência na minha vida.

Eu te amo com uma força que n tem nem precisa de explicação. Vc sente cada vez que a gente se olha e vc renova dentro de mim a energia pra fazer mais e melhor por você. 

Eu te amo! 

Mamãe

domingo, 5 de maio de 2024

Se a Mamá vai…

 Domingo de Tédio.

Carlos e eu sem assunto.

Eu sem energia e criatividade pra brincar com Theo.

Gastei meu tudo das 07:10 às 11:30 desta manhã com café dos campeões pro Theo, 5 banhos pelos efeitos colaterais da amoxicilina, desenhando casa, pipa, cachorro, gato, galinha, barata, barata, outra barata, aranha (1, 2, 3… 9) acompanhada de fundo musical, caracol, nuvem, esteínha, uuuua (lua), papai noel, presente, vovó Ia, escrever papai, mamãe, Theo, pista pro caminhão, Theo, Carlos… por ordenação do Theo.

Quando vivendo o domingo chato, convido Theo: filho vamos lá fora? (Havia combinado com a Mi q daria uma volta com T. enquanto  a Marina andaria de bike. 

Tinha certeza q ele amaria a proposta e ele disse:Nã não!

Aí disse: Mamá estará lá fora, ele sorri e sai em direção à porta: Já tive mais moral. Kkkkkk

Novo dicionário da língua portuguesa

 Amaiéio : Amarelo

Momatinhumemeia : Tomatinho vermelho

Caga: Casa

Mimi: Tia Mi

Cuca: Juca

Vovô Kika: Vovô Amílcar

Vovó Dóia: Vovó Aldora

Moangu: Morango

Kéo: Céu, Theo, Nuvem (fofo)

Diíça: Delícia 

Dêdi: Verde

Aaa ful: com f quase imperceptível: Azul






sexta-feira, 3 de maio de 2024

Trabalho (entre delícias e dores)

 Trabalho diariamente atendendo pessoas. 

A cada horário, minha mente e meu corpo é um espaço.

Nele entram e saem história. Ser terapeuta é permitir que a história do outro, a narrativa dele, seja o que demais importante você irá se ocupar num espaço de quase uma hora. É utilizar sua mente, mas também as emoções do seu corpo para compreender e traduzir uma série de conteúdos embaralhados, confusos, estranhos, contraditórios, ou simplesmente uma série de conteúdos que associam na narração, mas que trazem em sua linha outras histórias.

Quando atendo, percebo que sou levada para outros tempos. Alguns mais presentes outros distantes. Alguns pacientes me projetam pra um futuro, com eles faço planos. Outros me levam lentamente pra um passado com cheiros, sabores, sensações que compartilho. 

Não raramente quando atendo, sou levada à locais, que visualizo, locais que pertencem a cidade onde vivo, locais que pertencem a locais por onde vivi ou passei. Parece que quando contam a historia se referem aquele lugar. 

Com frequencia, quando o que sinto me dói, sinto que pacientes me pegam pela mão, me levam para dobras no tempo, me convidam pra outras dimensões e lá, a minha dor deixa de existir. Ou porque as fantasias deles são mais agradáveis ou porque doem mais que as minhas. 

Vivo também de acolher trabalhadores que sofrem. Me mobilizo. Me irrito. Me emociono ou revolto. O que os atinge, mexe com meu corpo. Por vezes, os pacientes me dizem: Sabia que faria essa cara! Imaginei que ia se incomodar. Eu precisava te contar, porque iria me entender.

Nestes anos ouvi muitas histórias de violências no trabalho. Por muitas vezes dialoguei sabendo que deveria ser difícil estar no local de trabalho vivendo aquela situação. Em alguns momentos, me lembrei das vezes em que não me senti bem estando num local, companhia, desempenhando uma tarefa, enfrentando, vivenciando uma situação de trabalho.

Há dias vivo isso novamente. Um problema recente no trabalho me tirou o chão. Fez meu corpo paralisar e treme: de raiva, de tristeza, decepção, medo, desejo de reagir. Não pude! Como tantas vezes expliquei, diante da situação onde no mundo animal a saída seria luta ou fuga. Humanos simplesmente silenciam.

Silêncio.

Chorei. Reclamei. Pensei. Falei. Tentei digerir. 

Meu silêncio inicial foi por não compreender. O que é tudo isso? 

Meu segundo silêncio foi em busca de cura. Me aquietei pelo que doía.

O próximo silêncio foi por raiva. Agora terão somente o meu silêncio e por ele farei justiça.

O silêncio seguinte estratégia. Melhor silenciar do que me expor.

O novo silêncio foi por pena pela perda de tudo o que fez sentido um dia.

E assim sigo. Vejo a história perder partes pelos dias passando.

Vejo a raiva, o medo, a tristeza se aquietarem também pelas partes da história perdida.

Queria até registrar pra não esquecer o que doeu:

Você me testa!

Você me ataca!

Você não escuta o que diz!

Você me desqualifica!

Você não se conhece!

Você não sabe quem você é!

Tudo isso, veio de quem eu MENOS ESPERAVA.

Meu porto seguro não só balançou, ele me lançou, ele me jogou.

Cada situação difícil me remete a voo no espaço.

Eis que fui lançada em mais um voo, desavisada. Sem recursos para lidar, porque não esperava.

Dessa vez, no local de trabalho.

A vergonha também me habitou.

Ela me visitou. Devia ter tido postura? Clareza? Frieza? Racionalidade?

Devo ter. Devo silenciar mais e entregar ao mundo apenas conteúdos processados e não as minhas emoções puras. Devo processar como realizo em consultório? Posso ser eu? 

Errei. Preciso me proteger. Preciso ter uma postura/posição/abrigo de mim em mim.

Pra quem sabe não ser lançada no espaço.

Tenho há tempos a sensação de que estou num espaço que não me cabe ou faz bem.

Sinto que está tóxico. Sinto que me rouba mais do que me acrescenta.

Agora, estou as voltas com um projeto, um sonho pra sonhar. Um lugar pra estar.

O bom a ser encontrado.

Mas por hoje, silencio e observo. Espero as respostas do tempo.

Ah! As respostas do tempo, são um pouco de bom pelo caminho, assim espero.

Enquanto isso, me conecto ao próximo paciente para fazer o que mais amo, ser convidada por alguém que me dá a mão e me leva pra algum lugar pra sonhar.